Há quem diga que a tecnologia nos deixou anti sociais. Discordo. Ela, inclusive aumentou significativamente a quantidade de relações entre as pessoas. Hoje, digitalmente, podemos falar com qualquer pessoa no mundo, na hora que quisermos. O mal da tecnologia foi remover um elemento primordial de uma boa relação: o contato.

Com as redes sociais, surgiu uma nova atividade: Mostrar aos outros (quase) tudo sobre nossas vidas. Criou-se a competição de curtidas entre as pessoas para ver quem tem a melhor vida dentro e fora do sistema. A facilidade em se conseguir as coisas na internet trouxe para as pessoas a necessidade de querer tudo na hora, do material ao emocional. O simples olhar, um aperto de mão, o abraço, o beijo...transformados em bytes e enviados pela internet para a outra pessoa, que responde da mesma maneira. Relacionamentos dentro e fora do mundo virtual tornaram-se em regra frios, rápidos, insignificantes e superficiais. Beijos e abraços, antes relacionados à uma vontade de entrega total, de idealização de algo maior, agora "são apenas o prazer do momento, nada mais". Não significarão nada na manhã seguinte. Uma batalha de egos: "Não responderei agora", "Vou esperar ela falar comigo".  


Quem vencer tem o poder sobre o outro, é no que acreditam.
 
Pessoas se machucaram por conta disso, sucumbiram ao novo sistema e agora fazem parte dele, disseminando o comportamento numa reação em cadeia. Dizem para si mesmas "não me entregarei novamente, pois vou me machucar", sem saber que incontáveis variáveis mudaram. Generalizam pessoas como generalizam contatos, "é só mais um, vai ser a mesma coisa". De tanto racionalizarem a emoção, de tanto tentarem prever o imprevisível, deixam de sentir tudo o que está acontecendo. A idealização que foi feita por uma das partes não passará de um desejo sem chance de se realizar.

Resta saber quantos não sucumbiram ao sistema, quantos ainda lutam para vencê-lo...

...se isso realmente for possível.




4 de jul. de 2015

Sonho impossível.




No início, não sabia realmente o que queria, mas acreditava em sonhos impossíveis. 
Sua mente lhe pregava peças cruéis.
Acreditava que tudo daria certo, sem pensar nas inúmeras possibilidades de falha. 
Seu coração não se importava, e com isso, eventualmente se decepcionava.

Em um desses sonhos impossíveis, encontrou aquela que poderia o salvar.
Ficara tão perplexo quanto no dia em que ela se materializou na sua frente.
As palavras, outrora naturais, se esconderam ao vê-la.
O olhar, antes distraído, só conseguia enxergá-la.
 
Após cada sorriso recebido, idealizava futuros. 
Após cada abraço, sonhava com sua libertação.
Quando não estavam juntos, ficava se perguntando o que ela estaria fazendo naquele momento, se pensava nele.
Quando estavam juntos o tempo parecia não existir.

"Não quero acordar desse sonho...".

Seu coração havia caído na peça, como o cego que cai no buraco.

Idealizou futuros que nunca existirão.
Sonhou com uma liberdade que não estava nem próxima de ser alcançada.
Ela não pensava nele.

"Não consigo acordar desse pesadelo!".
 
O tempo, que não existia no sonho impossível, agora corre devagar, numa relação diretamente proporcional ao tamanho do sofrimento.

Sua mente já prepara a próxima peça.
Seu coração, combalido, continua sem se importar e segue em frente.
Aguardando o próximo golpe.



Certa vez me perguntaram "Por que você tira tantas fotos do céu?". 

Ora, a resposta é muito fácil.
 
O céu é o maior quadro surrealista que existe, com suas cores, formas, arranjos, detalhes. Uma obra de arte em um museu aberto para visitação 24h por dia. Uma janela para o passado, um salto para o futuro. A derradeira confirmação de nosso tamanho comparado ao universo.

1 de out. de 2014

Incerteza


Não sei por onde começar...

Pode ser apenas mais uma noite.
Pode ser apenas mais um devaneio.
Pode ser também um ponto fora da curva.
Como também pode ser mais do mesmo.
Pode ser o ponto de partida.
Pode ser a última volta.
Pode ser a verdade na sua mais pura forma.
Como pode ser também mais um jogo de palavras arquitetadas.
Pode ser o melhor sonho, como também o pior pesadelo.
Pode ser ternura, pode ser arrogância.
Pode ser amor, pode ser indiferença.
Real, disfarce.
Destino ou a última fantasia.
Pode ser o que você quiser, meu bem......
Ou nada.

Na verdade, não sei se deveria ter começado...

7 de nov. de 2010

If

If every soldier
Were invincible
Every war
Would be dismissible

If every heart
Were left unbroken
Then not one word
Would be spoken

If every soul
Lived forever
Would any day
Be so clever

If every voice
Was always heard
Then leave no rock
Overturned

If every dream
Were to come true
Then what is stopping
Me and you?

13 de jun. de 2010

Sonhos


O dia começa como outro qualquer. Ele cumpre a sua rotina à risca.
Já nas primeiras horas da noite, ele está cansado e nada mais lhe motiva.
Então é chegada a hora que ele mais espera: a hora de dormir.
Ele tem seus motivos para que suas noites de sono sejam tão esperadas.
Aliás, há somente um motivo: Ela.

Todas as noites, ela o visita em seus sonhos, e isso para ele é reconfortante.
O sorriso espontâneo e sereno hipnotiza-o e então ele sorri de volta.
Juntos os dois fazem várias coisas e se divertem.
Em seus sonhos, o dia parece ser infinito, possibilitando mais tempo juntos.
Até que uma hora ele a abraça, se beijam e trocam sorrisos.
Com ela nos seus sonhos, ele sempre deseja nunca mais acordar.

Imaginar o céu com sua infinidade de estrelas mas onde somente uma brilha. 
Pois é assim que ele a vê: Dentre tantas, ela é a única que brilha no seu céu
E para ele, só uma estrela basta para que o seu céu permaneça iluminado.


29 de mai. de 2010

Qual o seu legado?


Um velho está sentado no banco de um parque, perto da casa dele. Lá ele alimenta os pombos, vê a manhã passar e olha as pessoas caminhando. Quando a manhã se vai, ele volta para casa.
Numa manhã ensolarada, lá está o velho, realizando seu ritual, quando de repente aparece um garoto, interrompendo o velho:
"Oi senhor"- disse o garoto, tímido.
O velho resmungou.
O menino então, pergunta:
"O que o senhor está fazendo?"
O velho então começa a falar:
"Estou alimentando os pombos, não está vendo?"
"O senhor sempre fez isso?" - pergunta o garoto.
"Claro que não, eu já fiz muita coisa nessa vida, rapaz!" - retruca o senhor, com a voz firme.
Curioso sobre o que aquele velho já tinha feito, a criança senta ao lado dele e começa a indagá-lo sobre seu passado.

O velho então para, fecha o saquinho que continha grãos para os pombos e começa a pensar.
Quando era mais jovem, ele não tinha amigos, sempre era o último a ser chamado, ninguém gostava dele. Alguns até fingiam ter algum sentimento para com o velho, mas estavam mentindo.

E ele sabia.

Então o velho lembra das vezes em que ele se arriscou pela sua amada, que havia falecido um ano após o 1º encontro deles. Mulher essa que habita os sonhos dele há mais de 65 anos. O velho então tenta lembrar das vezes em que ele fez algo de valioso para alguém. Na única lembrança dele, a amada está presente, e os olhos do velho se enchem de lágrimas. Não importava o quanto o velho tentasse, nada vinha na mente.

O velho abaixa a cabeça e diz, com a voz trêmula e triste:
"Eu não fui importante para ninguém, não deixei nada para ninguém, todos que passaram pela minha vida me machucaram, e nas vidas pelas quais eu passei não fui nada além de um estorvo. Eu não deixei nenhum legado."

Logo após essa afirmação, o velho deixou a criança sozinha, foi para sua casa e nunca mais apareceu no parque.


imagem → old man by *Karolaczka